domingo, 17 de maio de 2009

A Ave Encantada

Entro em casa
Busco o seu cantar
Pular
Gritar estridente de quem está feliz
Ao sentir a casa povoada
Ao ouvir a minha voz.

Mas o encontro não é o mesmo de sempre.
Vejo, a um canto da gaiola,
Aquela ave que prenunciou um novo tempo anos atrás
Já sem forças, olhar cansado...
Como a anunciar a sua despedida.

Amanhecer, lá em casa, era uma festa:
batia as asas velozmente;
feliz, imprimia passos de um lado para o outro da gaiola,
como quem quisesse roubar a cena,
saudar o renascimento
e dividir a beleza daquele tempo.

Protegi-a como pude.
Certifiquei-me de que não fora atacada por outro animal.
Agasalhei-a e despedi-me dela
Certa de que não teria mais a sua companhia a um novo amanhecer,
de que não mais a veria correr e cantar.

Mas, em minha memória,
jamais se apagarão os dias felizes;
o seu canto anunciando um novo dia;
o contato diário;
a beleza de sua espécie, de suas cores;
o seu bico, de leve, tocando em meus dedos.
E o vazio que deixou ao partir.

Vida que não teve tempo para chegar
E que partiu sem se demorar
Sua gaiola ficará para sempre
DESABITADA.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

UM BREVE ADEUS


Hoje, por um rápido-efêmero momento, minha mãe, ao sentir minha aproximação e identificar, na confusão mental em que estava mergulhada, aquela voz há tempos familiar, há tempos simbolizando ventre, entranhas, amor incondicional, a filha gerada e tão esperada, abriu-me um sorriso e por, fração de segundos, senti um fio de vida em seu olhar há tempos distante, sem foco, vazio, triste... tão triste de dar dó. Senti-me recompensada, pois já não a ouço falar, sequer tenho a correspondência de seu olhar ou sinto seus olhos em minha direção. Mas que direção? Nem sua vida conseguia mais conduzir. Ainda que apele aos santos, fale aos seus ouvidos palavras de efeito, chame o seu nome... nada consigo. Assim, aquele sorriso furtivo, sem intenção específica foi o máximo!
Acaricio o seu corpo sofrido, frágil, esquálido, faço-lhe alguns curativos nas feridas que insistem em deixar suas marcas, beijo-lhe a testa, como a dizer: estou aqui, confie, não vá agora; sou eu, sua filha querida. Mais uma vez o silêncio foi mais forte e não obtive qualquer correspondência ou gesto que pudesse reconfortar o meu inquieto coração, tão oprimido, há tempos sem a paz necessária para viver dias felizes.
A cena choca-me: fios, aparelhos, sondas, invasões cada vez mais dolorosas e agressivas num corpo que só precisa descansar. E só precisando descansar, por que teima em resisitir, por que deixa-se invadir e ferir-se cada vez mais? Qual será ainda o seu compromisso por aqui? Que fio tênue liga-a a esse mundo?
Sigo, acariciando aquele corpo semi-morto e cobrando da vida algumas respostas impossíveis no plano real. Na transmutação de energia, queria-lhe amenizar as dores, mas não sou tão poderosa assim. Nestas ocasiões quisera ser, mas definitivamente não sou. Dilacero-me, fragilizo-me, volto ao meu papel de acompanhante, mas não sem antes chora r copiosamente. Os meus olhos mais uma vez buscam os seus, na esperança de encntrá-los, mas não mais os encontro. Voltou para o seu mundo alienante. Volto a chorar então mas com um sabor de revolta; lamento que a sua vida tenha tomado um rumo tão triste, tão alheio às coisas que acontecem a sua volta. Afinal, o melhor da velhice é poder contar causos e até isso lhe foi negad0.? Triste, não? Maldisse a religião, que, por tanto tempo foi seu alicerce, seu tempo itegral de dedicação. Falta-lhe à cabeceria pessoas que peguem em suas mãos e entoem os cânticos que senpre lhe serviram de cantilena para encher seu coração de alegria. Por onde estará o PAI, que não vem em socorro de sua filha? Abandonou-a á luz de sua própria sorte? Deixou-a só e desamparada? Estas questões inquietam-me a alma, criam um abismo entren o racional e o pasional que povoam nosso corações e inquietam a nossa essência.
Separo-me dela já com a bolsa na mão, despeço-me sussurrando a palavra AMOR e outras palavras de efeito para que não se esqueça jamais do quanto foi importante em ninha vida. Alcanço a porta de saída e comporto-me como alguém que ainda espera rever aquele sorriso tão rápido mas tão significativo dentro daquele universo nonsense, Volto mais uma vez para vê-la de perto, beijar-lhe carinhosamente a testa e dizer-lhe: - Mãezinha, até amanhã ou até qualquer hora.

Um breve adeus


Hoje, por um rápido-efêmero momento, minha mãe, ao sentir minha aproximação e identificar, talvez, em seu turbilhão mental, aquela voz há tempos familiar, há tempos simbolizando ventre, entranhas, amor incondicional, afilha gerada e tão esperada, abriu-me um sorriso e, por fração de segundos, senti alguma vida em seu olhar há tempos distante, perdido, sem foco, vazio, triste. Senti-me recompensada e um fio de vida fez-se luz.

Já não a ouço mais, sequer sou correspondida ou acompanhada por olhos vivos em minha direção; ainda que apele, fale aos seus ouvidos, chame o seu nome sofregamente. Ganhar, então, um furtivo sorriso foi o máximo! Acaricio seu corpo frágil, esquálido, faço-lhe alguns curativos ( a doença castiga seu corpo, a morte se anuncia todos os dias), toco-lhe, com cuidado, a sua pele, beijo-lhe a testa com enorme carinho, como a lhe dizer: - estou aqui, confie, não se vá, sou eu, sua filha querida. Mas o silêncio corrói minhas esperanças e não obtenho qualquer correspondência ou gesto que possa reconfortar meu coração tão oprimido, tão inquieto, há tempos sem a paz necessária para dias felizes. A cena choca-me: aparelhos, fios, sondas, invasões dolorosas naquele corpo tão cansado, tão inerte. Aquele pobre corpo só precisa descansar. E só precisando descansar, por que deixa-se invadir e ferir-se cada vez mais, por que não reage? Qual será ainda o seu compromisso por aqui? O que deverá cumprir ainda?

Sigo, acariciando aquele corpo semi-morto e cobrando da vida algumas impossíveis respostas