quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Por um fio de vida

Sinto-me só, como só estão os corpos palestinos espalhados pelo chão. Quem virá nos socorrer? Estaremos entregues à crueldade vã, à disputa de pedaços de terra, quando pedaços de carne são deixados pelo caminho sangrento sem a menor valorização? Quem estancará a dor de milhares de mães que viram seus filhos e filhas tombarem sem dó nem piedade? Quem reconstruirá o terrível cenário do caos absoluto que, todos os dias, os nossos olhos, não querendo dimensionar, constatam com aquela tristeza que machuca o peito, que fere a alma, que embarga a voz, que anseia pelo final daquela triste história, que espera lucidez dos que comandam nações e que por serem maquiavelicamente poderosos exterminam sem piedade os seus semelhantes. Ah! Quanta tragédia ao nosso redor! E, como num turbilhão, sentimo-nos parte deste extermínio, que se arrasta por tempos e tempos sem que um sopro de respeito ao próximo seja mais forte e possa perpetrar os corações refratários dos que insistem em desconhecer a dor do outro. Não há como não nos contaminarmos com tudo isso e lamentar que, em tempos de renovação, de vida nova, de reconstrução, de balanço daquilo que fizemos de errado no ano passado, não possamos construir um mundo melhor, menos agressivo, mais humano, mais solidário, em que se plante o amor em vez de cultivar o ódio.
Ainda assim, sinto-me só, sinto-me pequena diante dos fatos, como que, numa caridade inútil, fique apenas o meu lamento, o grito abafado sem repercussão, sem condiçoes de gritar aos quatro cantos o quanto tudo isso me aterroriza e me faz desacreditar na grande virada, em que todos, "vamos de mãos-dadas', parafraseando Carlos Drummond de Andrade, construir um mundo mais justo, mais altruísta e menos material. Até lá, fica o meu grito de socorro e a sensação de que vivemos constantemente por um fio de vida, tão desvalorizada, tão banalizada.